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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Creepypasta dos Fãs - Nail's Art (Parte 3)

Pois é pessoal, estive nos dias anteriores meio pra cá, meio pra lá... Já começo pedindo desculpas pela demora da parte três desta incrível obra, ando meio louco da cabeça (se é que me entendem) ultimamente, então me perdoem se vocês passarem os olhos por alguma bobagem. Alguns problemas pessoais que me trazem estresse e essa cicatriz no mundo que persiste até agora, não sei se posso considerar esses dias de ausência em postagens como um luto, mas eu irei.

Enfim, a vida continua, vamos ao que interessa. Peço a compreensão de vocês.

 CLIQUE AQUI para a primeira parte da série. Ou aqui para a segunda.


                   Nail's Art (Parte 3) por Wagner De La Cruz


Pela manhã, como de praxe, Dani acordou antes do despertador tocar para preparar o café das garotas. Ainda que não tivessem a convivência adequada à noite, nas primeiras horas do dia, à mesa, eram uma família digna de comercial de margarina, tão unidas e felizes quanto pudessem ser.

Apesar de Luísa choramingar pelo término do Chaves, Daniela conseguiu contornar este problema e, aparentemente, evitou o início da terceira guerra mundial. Ficou combinado que a caçula ganharia um presente no fim de semana caso se comportasse e não chorasse mais. Evidentemente, a mãe nem sabia qual presente daria à filha, mas não queria iniciar o dia se indispondo.

Antes de Amanda sair para levar Luísa na creche e ir para a escola, Dani lhe deu dez reais para pagar a diária do DVD, além de fazer as recomendações que repetia diariamente e que Amanda, em piloto automático, apenas assentia.

Por fim, depois que as filhas saíram, Daniela aprontou-se rapidamente e também saiu. Não era do tipo que se atrasava, principalmente quando tinha cliente pela manhã. Também não era muito fã da primeira-dama, a achava fútil e prepotente, tal qual o prefeito, mas serviço era serviço. Não faria juízo de caráter.

Irônicamente, o ônibus em que Daniela estava precisou pegar uma desvio em Mariluz, bairro centro-norte de Imbé, devido a um bandeiraço matutino em prol da candidatura à reeleição de Pedro Dias. O caminho pela RS-786 iria atrasar a chegada de Dani em pelo menos vinte minutos.

- Que droga! [pensou em voz alta] Quem faz bandeiraço numa QUARTA às 8:45?!

***

- Boa tarde! [disse Janaína, de forma debochada, quando Daniela chegou ao salão, às 9:25]

Daniela devolveu o cumprimento apenas com um aceno e um sorriso, elementos que seus amigos sabiam ser algo quase cínico, mas que para a primeira-dama soaria como um pedido de desculpas.

Quando Janaína chegou, pontualmente às nove horas, Leonardo já tratou de começar os trabalhos nos cabelos da cliente. Também não tinha muita afeição pela mulher, mas estava interessado é no pagamento que receberia, sobre tudo nas gorgetas. Beth chegou a se oferecer para fazer as unhas, mas, como não tinha o nível artístico de Dani, fora rejeitada.

- E então, dona Janaína, qual cor vai querer? [perguntou Daniela, simpatissíssima para quem não a conhecia]

- Ah, pode ser aquele vermelho que fiz a última vez... [dizia Janaína, quando Léo fez uma pausa para que pudesse escolher o esmalte certo. Então, os olhos da mulher se fixaram em um vidro específico] Não! Eu quero AQUELE vermelho!

O vidro que Janaína fitava com olhar fascinante era o mesmo que encantara a própria manicure no dia anterior. Aquele tom de vermelho se sobressaia aos demais, tal era sua beleza. Ao pegar o vidro para iniciar o serviço, Dani podia jurar que o mesmo estava aquecido pela intensidade e força do esmalte colorido. Bonito demais para esta vaca, pensou.

O dia estava com céu de brigadeiro. Depois da tempestade sempre vem a bonança, dizia o velho ditado. Seria uma tarde que daria praia, pensava a manicure. Enquanto trabalhava, Dani refugiou-se nela mesma, ignorando o papo furado da mulher do prefeito, imaginando-se à beira-mar com as filhas, promessa que fizera e adiara inúmeras vezes no último verão, e respondendo com monossílabas esporadicamente. Se estivesse um dia cinzento, imaginaria-se em uma tarde em casa, com Amanda e Luísa, vendo um DVD (poderia até ser o do Chaves!) e comendo pipoca. Afinal, qualquer refúgio interno era melhor do que ouvir conscientemente a falação fútil e desenfreada de Janaína.

De fato, a cliente era apenas uma esposa troféu. Só acompanhava o marido em viagens para servir de adorno, e não se importava com isto. Tampouco dava sinais de se incomodar com os falatórios sobre a diferença de idade de vinte e sete anos entre eles. Sua vida era ter um cartão de crédito com um belo limite, visitar locais chiques, ter as melhores roupas, frequentar os melhores hotéis e, o mais divertido, contar tudo para os menos afortunados e causar inveja.

Nem Daniela, nem Janaína perceberam quando, por menos de cinco segundos, uma nuvem passageira cobriu o sol, criando uma sombra sobre o salão que logo se dissipou. Mas ambas perceberam que a temperatura caiu uns cinco graus repentinamente, já que quase coordenadamente sentiram um arrepio na espinha dorsal.

- Léo e a mania de ligar o ar no mínimo! [disse Daniela]

O aparelho de ar condicionado localizava-se na parede atrás do cabeleireiro. E marcava exatos 25°.

***

Perto das 11 da manhã o trabalho de Dani havia sido concluído. O esmero era impressionante e louvável. As decorações em amarelo e preto sobre o esmalte vermelho, as cores do partido do atual prefeito, assentaram bem, tendo a mulher escolhido tribais indistintos e, no polegar da mão direita, um símbolo chinês que significava "fortuna".

Enquanto Léo dava os últimos retoques no penteado de Janaína, Dani foi consultar a sua agenda. Lembrava-se de ter um serviço marcado para o meio-dia, mas quis confirmar. Encontrou o nome da cliente riscado.

- Ué?! A Thaís desmarcou? [perguntara à Beth]

- Sim, ela me mandou um WhatsApp pela manhã, remarcou para sexta. Tudo bem?

- Sim, sem problema. Vou aproveitar e marcar para a Amanda. Quinta tem Feira de Ciências, aí já faço as unhas dela hoje, já que não sei que hora vou chegar em casa depois do trabalho.

As engrenagens do destino novamente funcionavam à todo vapor, e o rumo da vida de Daniela, Amanda e até da pequena Luísa seria alterado drásticamente com um punhado de palavras enviadas através de um aplicativo de mensagens eletrônicas: "Filha, vem aqui no salão a uma hora. Marquei horário para ti".

***

Sem nenhum evento político, os ônibus puderam trafegar novamente pelas rotas pré-determinadas. Eram 13:25 quando Amanda e Luísa desembarcaram no ponto mais próximo ao salão da mãe.

- Promete que deixa eu pintar as unhas também? [perguntara Luísa. A caçula era fascinada pela arte. Apesar de Amanda também gostar, Dani sabia que Luísa é quem seria sua sucessora]

- Sim. Anda, mana, senão vamos nos atrasar!

Amanda sabia o quanto a mãe era ocupada, e estava ansiosa: faria todas as amigas morrerem de inveja. Sempre ficavam roxas de ciúme cada vez que Daniela decorava as unhas dela.

Ao chegarem no salão, cumprimentaram Léo, que estava saindo para almoço. Daniela estava no sofá, lendo uma velha edição da Revista Contigo. Luísa desvencilhou-se da mão da irmã e foi correndo abraçar a mãe.

- Mãe! Te amo!

- Também te amo, filha. Como foi na creche?

- Bom! A gente olhou o Chaves! A tia levou um DVD com um monte de episódio!

- Uau! Por isto que tu não chorou?

- Não, mas porque a mana falou que, se eu não chorasse, a mãe ia pintar a minha unha.

Dani não pode deixar de sorrir, abraçar e beijar a caçula. Em seu depoimento à polícia na tarde seguinte, Léo descreveria esta cena.

- E então, Amanda. [perguntou Dani] Já escolheu a cor?

- Já, mãe. Vou querer este vermelho que tu tá usando.

É impossível resistir a ele, pensou Dani. Será que aquele velho esmalte seria tendência? Será que ela o havia ressucitado para brilhar?

- Ah! Eu também! [disse Luísa] Todo mundo de vermelho, igual o Chapolin!

Dani e Amanda riram com gosto, enquanto a garota se instalava na poltrona de serviço. Novamente, quando Daniela pegou o velho frasco, uma grande e densa nuvem tapou o sol por uma fração de segundos, seguida por uma queda brusca na temperatura. O ar condicionado ainda marcava amenos 25°, e Dani estranhou o arrepio que sentira. Coisas da idade, concluiu, enquanto ajeitava-se para manicurar as unhas da filha.

***

Um Logan escuro com um adesivo escrito DELEGADO TOFFANI PREFEITO e placas de Porto Alegre parava no estacionamento  do Cemitério Municipal de Tramandaí, cidade vizinha a Imbé. O motorista, um atraente jovem senhor, dirigiu-se a loja de flores e velas que comodamente instalara-se onde antigamente era a Lancheria Vegas.

Todos os anos aquele homem repetia o mesmo ritual, na mesma data, há pelo menos 25 anos. Estar na reta final da campanha política onde era candidato à prefeito em Torres, cidade há duas horas de distância de Tramandaí, não iria impedir de visitar o túmulo de alguém por quem ele nutre tanto carinho, tantos bons sentimentos. Apesar de já ser casado há duas décadas, certas paixões nem a morte consegue fazer esquecer.

- Pai? [uma voz o chamava na entrada do cemitério]

- Sim, Elisa.

- Posso ir contigo? Não quero esperar no carro. E cemitérios me dão medo... [disse Elisa, com um sorriso trêmulo, enquanto roía as unhas curtas, vício hereditário do qual ele não se orgulhava]

Eduardo sorriu. Elisa já tinha 14 anos, dois anos a menos do que a garota que ele visitava teria eternamente. Não haveria como elas se parecerem, mas ele achava que, de certa forma, tinham alguma semelhança na parte da ingenuidade.


- Claro. Não vamos demorar, filha.


Fim da terceira parte. Uma ótima manhã, tarde, noite, madrugada, aonde for que você estiver, um ótimo dia, fiquem ligados para a quarta parte!

*EXCLUSIVO CREEPYPASTA PURO / POR WAGNER DE LA CRUZ*

domingo, 27 de novembro de 2016

Creepypasta dos Fãs - Nail's Art (Parte 2)

Olá novamente, postando aqui a segunda parte desta épica série. Se você não leu a primeira parte, por favor, CLIQUE AQUI.
Vamos para a Creepypasta!

                 Nail's Art (Parte 2) por Wagner De La Cruz


A chuva amenizara na tarde em Imbé. O Beautiful & Chic localizava-se na área nobre do município, na avenida principal, rodeado por lojas e comércios. Beth inaugurou o salão no início de 2008. E agora, oito anos depois, já era um dos mais conceituados da pequena cidade gaúcha.

Daniela morava em Imbé há pouco mais de dois anos, vivia com suas duas filhas em Santa Terezinha, bairro de classe média no extremo norte da cidade. Seu falecido marido, Roberto Ciechoski, era professor de história em Porto Alegre. Quando Roberto morreu, quase três anos atrás, vítima de um enfarto fulminante enquanto dava aula, Daniela ficou arrasada. Amava demais o marido, estavam juntos desde que tinham 14 anos. Sua filha mais nova, Luísa, tinha menos de dois meses. Viúva, com duas crianças pequenas para criar, e sem o homem de sua vida! O cenário não poderia ser pior para Daniela.

Após crises de depressão, apatia e sucessivas idas a psicólogos, Dani decidiu mudar-se para o litoral norte. Em Imbé poderia iniciar uma nova vida e, com o tempo, aprender a conviver com a dor. Porto Alegre lhe fazia mal, tinha muitas lembranças, e precisava de novos ares para superar a perda. Mais do que isto: precisava ser forte, já que agora tudo que as meninas tinham era ela! Assim, juntou suas economias, vendeu sua casa na capital e partiu rumo à praia.

Apesar de receber uma pensão de seu falecido marido, o dinheiro não era suficiente para proporcionar a ela e às filhas uma vida suficientemente confortável. Sendo assim, Dani voltou a exercer a profissão que tinha antes de casar-se: manicure e pedicure. Era um verdadeiro dom, tinha noção disto. Ninguém que conhecia era mais hábil.

Após dois meses atendendo em sua casa e esporadicamente à domicílio sem ter um retorno satisfatório (a população de Imbé era de apenas 15 mil habitantes), Dani resolveu tentar um emprego em algum salão de beleza. Amanda já tinha 13 anos, e poderia cuidar de Luísa a tarde, quando retornasse da escola e pegasse a irmã na creche.

Sua primeira tentativa foi exatamente no Beautiful & Chic. Quando Beth pôs os olhos nas unhas decoradas de Dani achou que eram decalques, tal a perfeição na arte. Ao descobrir que era pura técnica, Beth não deixou Dani sair do salão sem a garantia de que a manicure faria parte do seu quadro de funcionários.
Agora, dois anos depois, os problemas de Dani pareciam algo distantes. Aos 33 anos, bem empregada e gozando de ótima reputação, sentia-se feliz. Roberto sempre lhe fará falta, obviamente. Foram dezesseis  anos de casamento. Mas já lidava bem com isto, e transferira todo o seu amor para suas meninas. Eram sua vida e motivação.

- Mais alguma coisa? [perguntava-lhe a atendente da Lancheria Shallom]

- Pode me trazer também uma lata de Coca-Cola.

Enquanto aguardava o xis salada com refrigerante, Dani resolveu ligar para Amanda. Já eram 13:45, geralmente ligava para a filha quinze minutos antes disso.

No segundo toque alguém atendeu, e uma  voz de choro do outro lado da linha fez Daniela afastar o celular do ouvido.

***

O telefone do Beautiful & Chic tocou no exato instante que Leonardo, um dos cabeleireiros, chegava. Com um aceno de cabeça cumprimentou Beth, que distraidamente lia o Diário Imbeense, acompanhando o desenrolar da campanha política que só terminaria em dois meses.

- Beautiful & Chic, boa tarde! [Falou Leonardo, com sua voz afetada característica]

- Oi Léo, é a Janaína.

Janaína Dias, primeira-dama da cidade, uma das clientes fixas do salão. Beth não nutria grande simpatia nem por ela nem pelo marido. Não tornava isto público, evidentemente, mas também não se importaria se o atual prefeito fosse derrotado nas urnas em outubro.

- Faaaala, guria! [prosseguiu Léo] O que é que manda?!

- Amanhã vou querer um tratamento completo, ok? Cabelo, sobrancelhas, depilação, unhas... tudo que tiver direito! Tem como marcar?

- "Tem como marcar?"? Menina, aqui você maaanda! Claro que tem! Que horas vai querer?

- Pode ser umas nove da manhã? Pedro e eu vamos à Brasília e...

- Marcadinho, amiga! Te aguardamos amanhã então.

- Certo. Obrigada Léo. Você é um amor!

Dindim torna as pessoas tão amorosas, pensou Léo. Despediu-se e, após anotar na agenda os horários para Janaína, serviu-se de um café. Sem açúcar e quase escaldante, como ele gostava.

- E a Dani? [perguntou o rapaz à Beth]

Beth recapitulou o que  Daniela lhe contara. A cada evento estranho Léo, um notório medroso, levava as mãos à boca, exclamando um AI! meio assustado meio afeminado.

***

- O que está acontecendo, Amanda?! [falava Daniela ao celular]

- Tiraram o Chaves! [disse a filha, enquanto o berreiro seguia ao fundo, na linha, como uma música incidental]

- Ãhn?! [Dani pegou-se confusa]

- Assim, o SBT tirou o Chaves para botar um jornal que ninguém olha. E agora a Luísa quer ver o Chaves e não pára de chorar!

- ...

- Mãe?

- Sim, filha.

- O quê que eu faço?!

- Ai, Amanda. Não sei. Por que você não brinca um pouco com ela? Já, já ela esquece e...

- Já tentei! Ela só quer ver o Chaves, mãe!

Daniela respirou fundo. Não gostava de ver a filha chorando. Queria poder fazer todas as vontades das garotas, mesmo quando não dependia dela, como era o caso. Não poderia obrigar o SBT a passar o maldito Chaves.

Então, lembrou que tinha ganho um dinheiro a mais pelo último trabalho, e sugeriu à Amanda que fosse com Luísa até a locadora do centro do bairro, há dez minutos de casa, e alugasse em sua ficha um DVD do Chaves. A diária não era muito barata, dava quase duas passagens de ônibus, mas  faria isto pela sua caçula. À noite, explicaria para ela que Chaves agora só teria aos fins de semana. Mas, por ora, resolveria assim a situação.

Quando o lanche chegou, cinco minutos mais tarde, Dani despediu-se da filha, e recomendou que se cuidasse, como fazia todos os dias. Mal deu a primeira mordida no cheeseburguer e seu celular novamente vibrou. Era um Whatsapp. Léo estava avisando do serviço marcado para o outro dia.

OK. Digitou e enviou.

E pôs-se a comer rapidamente. Estava com muita fome. E o lanche dalí era delicioso! Dani parecia comer como se fosse o último xis que poderia degustar.

Se pensasse realmente isto, não estaria tão errada.

***

O restante do dia foi um tanto tedioso. Apenas duas clientes, ambas depilação para Beth, foram ao Beautiful & Chic. A maior parte do tempo Dani e Léo falaram sobre alimentação, como quase todos os dias. Ele, esguio e rato de academia, era um perfeito natureba. Não comia nada que pudesse, em suas palavras, "prejudicar o corpinho". Já Daniela, mais para Melissa McCarthy do que para Gisele Bündchen, era totalmente avessa a dietas. Gostava de comer aquilo que tinha vontade e pronto.

A tarde se arrastava lentamente. Já não chovia, mas o vento que soprava era gelado e desmotivava qualquer pessoa a sair de casa. Eram 18:25 quando Dani se dirigiu ao ponto de ônibus. Pelos seus cálculos não esperaria mais do que dez minutos até o Expresso Boto passar, mas, infelizmente, o relógio do motorista não estava alinhado ao seu, de modo que só embarcou às 18:48.

Chegou em casa já passava das sete e meia da noite. Amanda havia preparado uma macarronada de carne moída e aguardava a mãe assistindo ao Atualidades Pampa, um velho hábito que a garota involuntariamente herdou do pai. Sempre antenada com os assuntos mais relevantes.

Luísa já estava dormindo. Era muito raro Daniela encontrar a filha ainda desperta quando chegava do serviço, mas nunca deixara de dar-lhe um beijo de boa noite e  passar o início da manhã com a garota. Como já dito, não queria que lhes faltasse nada, principalmente amor.

Após o jantar, lavou a louça enquanto ouvia a Rádio Gaúcha, hábito que ela mesma adquirira do marido. Mal prestava atenção às notícias, mas era algo que a fazia sentir como se Roberto estivesse alí.

Quando Amanda foi deitar-se, lá pelas 22 horas, Daniela foi tomar um banho quente. Deu-se ao luxo de demorar 25 minutos sob a ducha, e, ao sair, tomou um copo de leite quente, para ajudá-la a adentrar no mundo dos sonhos. Teria um grande dia pela frente.


Fim da segunda parte, meus amigos. Uma ótima noite para vocês.

*EXCLUSIVO CREEPYPASTA PURO / POR WAGNER DE LA CRUZ*

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Creepypasta dos Fãs *E NOVA SÉRIE* - Nail's Art (Parte 1)

Olá queridos fãs e visitantes do blog, venho anunciar neste momento uma nova série genial, criada pelo único e estupendo, Wagner De La Cruz! Sim, Wagner irá mais uma ver mexer com a sua cabeça com o seu novo conto do gênero Supense/Drama. Segue a sua sinopse:

Elogiadíssima em sua profissão, a manicure Daniela é uma verdadeira guerreira.

Viúva e mãe de duas filhas, Dani, como é conhecida, mora no pacato município de Imbé, uma das mais belas praias do sul, onde trabalha num dos salões de beleza mais conceituados da região.

Ela não sabe, mas, ao passar a utilizar um esmalte fora de linha esquecido em seu acervo, e que inacreditavelmente torna-se tendência entre suas clientes, irá alterar o destino de toda uma cidade, atraindo uma onda rubra de medo, dor e violência para o coração do litoral.

Autor de "Contos do De La Cruz", "A Defensora" e "Horror na Escola", Wagner De La Cruz presenteia seus leitores com a sua novela mais perturbadora.

Nail's Art (Parte 1) por Wagner De La Cruz

Daniela assustou-se ao voltar da pequena cozinha do salão de beleza onde trabalhava.  Eram 12:34, e, até onde lembrava-se, havia fechado a porta da frente. Devia ter se confundido, já que, ao regressar ao hall de entrada, havia uma cliente lhe esperando.

A manicure nunca tinha visto aquela senhora, nem lembrava de ter agendado algum serviço para o horário do almoço. Clientes ao meio-dia eram muito raras, ainda mais em uma terça-feira fria e chuvosa de agosto. Sua patroa, Beth Rossner, havia saído há menos de dez minutos e também nada lhe dissera.

- Bom dia, digo, boa tarde senhora... Pois não? [Disse Dani, colocando seu prato fumegante de miojo feito no microoondas sobre a bancada da recepção]

- Olá. Eu gostaria de um serviço completo de manicure. É possível?

A cliente tinha uma voz arrastada, mas decidida. Algo em seu olhar pareceu cativar Dani. A mulher beirava os cinquenta anos, tinha a pele muito branca e usava uma maquiagem um pouco exagerada, mas bem feita. Ao falar, esboçava um sorriso discreto e insinuante, que se emoldurava bem em combinação com os longos cabelos lisos, o rosto comprido e nariz adunco.

Um trovão ribombou ao longe enquanto a cliente aguardava a resposta. Dani sorriu um pouco insegura:

- Claro! Não tenho ninguém marcado até as 15 horas. Só um momento [Dani respondeu e, com o prato de comida, dirigiu-se rapidamente de volta à cozinha]

- Que ótimo! Você é a Daniela né?

Outro trovão.

Ainda mais surpresa com aquela situação atípica, Dani voltou lentamente até o hall, carregando sua maleta de ferro com os utensílios de serviço.

- S-sim... C-como sabe meu... como sabe meu nome?!

A cliente mexia em sua pequena bolsa de couro negra, que parecia ser adereço do vestido que utilizava, e se voltou sorrindo para Dani, mostrando-lhe um pequeno panfleto rosa que acabara de tirar.

- É o que diz aqui, no anúncio do salão...

O folder dizia ESPAÇO BEAUTIFUL & CHIC - SALÃO DE BELEZA, com informações e gravuras dos serviços do local, e, bem no rodapé, os números de telefone e WhatsApp ao lado dos nomes das responsáveis pelos trabalhos, incluindo Dani.

A manicure sentiu o rosto arder e corar. Que gafe! E era uma cliente nova! Devia achá-la maluca...

- Perdão, senhora...

- Jéssica. Jéssica Dumore.

-  Bem, me perdoe, dona Jéssica, é que fizemos os folders há pouco tempo, não me acostumei ainda e...

- Tudo bem [disse Jéssica, simpática], não se incomode com isto. Mas gostaria que começasse o quanto antes, ok? [desta vez, mais rompante]

- Sim senhora. A senhora já escolheu o esmalt

- Sim! [cortou a cliente] Aquele vermelho, o primeiro da segunda prateleira.

Dani virou-se para as enormes prateleiras de esmaltes. Havia pelo menos duas centenas de vidros, com absolutamente todas as cores e uma infinidade de marcas. O que Jéssica indicou era de um vermelho escarlate, encorpado, com um frasco único e com o rótulo apagado. Ao pegá-lo, Dani não se lembrou dele. Parecia um produto artesanal. Tinha certeza que o modelo do recipiente e o formato do pincel estavam fora de linha há muito tempo. Será que já não estaria seco?

Enquanto colocava a água para ferver na jarra elétrica, Dani abriu o frasco. Incrivelmente o pincel estava úmido, e não havia o menor sinal de crostas. Era como se o velho esmalte nunca tivesse sido aberto. O cheiro do produto era forte, acre, mas a cor... ah! A cor era belíssima! Um vermelho vivo, pungente, parecia capaz de hipnotizar. Por quê nunca ninguém o havia escolhido? Estava no salão há quase dois anos e não entendia como não o utilizara antes. Vou oferecê-lo a todas as clientes daqui por diante, pensou. Ante o pensamento da manicure, Jéssica sorriu na poltrona.


***


A chuva tornou-se mais forte e os relâmpagos mais constantes enquanto Dani manicurava. A temperatura pareceu diminuir drásticamente, mesmo para a época. Jéssica não era exatamente uma cliente 'falante', de modo que, após duas ou três tentativas de puxar assunto retribuídas com falas monossilábicas, Dani desistira de qualquer interação.

Na verdade, a manicure sentiu-se um pouco intimidada durante a execução do trabalho. Jéssica Dumore parecia ter os olhos fixos em Dani, como se avaliasse algo mais do que seu desempenho profissional.

Por fim, as unhas ficaram prontas. Mais uma vez, Dani ficara orgulhosa de seu êxito. Era, de fato, excelente naquilo que fazia. Um sorriso tão enigmático quanto o de uma Monalisa moderna surgiu nos lábios de Jéssica quando examinou o serviço.

- Perfeito! [disse Dumore, com a voz ronronante de Kathleen Turner] Quanto lhe devo?

- Obrigado. [Dani sentiu-se encabulada] São quinze re...

"I've had, the time of my live...", a música tema de Dirty Dancing começou a tocar. Era o toque do celular de Dani. Ela havia deixado o aparelho sobre a pia quando preparava o almoço. Pela hora, talvez fosse Amanda, sua filha mais velha. Sempre ligava por volta das duas da tarde. Pedindo licença para Jéssica, dirigiu-se rapidamente à pequena cozinha.

O telefone parou de tocar quando Daniela foi atender. O visor mostrava <NÚM. RESTRITO>. Deve ser alguma empresa de cartão, pensou a manicure, enquanto regressava para o local de trabalho.

- São quin...

Novamente não terminara a frase. Jéssica Dumore havia desaparecido! Impossível, pensou Dani, ela estava aqui há vinte segundos!

Sobre a mesa de serviço estava uma nota de R$50,00, dobrada abaixo do vidro do esmalte escolhido. Ao lado, um cartão de visita com os dizeres JÉSSICA DUMORE em letras estilizadas, com um número de telefone com o DDD 92 em relevo, margeado por tribais de cor dourada.

Intrigada, Dani tentava imaginar o quê afinal de contas fazia sua nova cliente, já que o cartão que agora segurava nada especificava, quando uma mão repousou sobre seu ombro esquerdo. Dani gritou, girando nos calcanhares, encontrando o rosto surpreso de Beth Rossner.

A manicure perdeu e equilibrio e Beth precisou segurá-la e ajudá-la a se sentar.

- Meu Deus, Dani! O que houve, criatura?! Você está tão pálida!

Dani lhe contou, sentindo-se tola e levemente irritada quando Beth finalmente riu do susto involuntário que causou.

- Calma, amiga. [Beth falou] Ela devia estar com muita pressa, você mesma disse que ela queria um serviço rápido.

- Mas... você não a viu quando chegou?

- Não, mas ela pode ter saído por outro lado. E também, posso ter visto e nem notado.

- Sim, mas,.. Ai, sei lá!

Beth riu novamente da confusão de Dani. Desta vez, tendo companhia da mesma.

- Olha [disse Beth], vai almoçar, amiga. Sei que tá com fome. Pode até ir na lancheria alí da frente, hoje tá bem tranquilo.

- Tem certeza?

- Claro! Você merece, depois de hoje!

E novamente riram. Dani, ainda nervosa, mas um pouco mais calma, levantou-se e foi pegar sua bolsa. Beth, distraidamente, guardou a chave que usara para entrar e foi preparar um café para as possíveis clientes.

Então esta é a primeira parte de um longo conto cheio de surpresas e mistérios, espero que tenham gostado, obrigado pela atenção de vocês, e lá vamos nós, aos poucos, mas estamos nos reerguendo.

*EXCLUSIVO CREEPYPASTA PURO / POR WAGNER DE LA CRUZ*

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Creepypasta dos Fãs - Horror na Escola

- Se apresse, menino! Vai se atrasar! [gritava Íris para o filho].


Já passava do meio-dia e Bruno ainda não estava pronto para almoçar e ir para a escola. Na verdade, ainda estava só de cuecas e metido embaixo das cobertas quando sua mãe chamou.


Na noite anterior o Telecine Cult transmitiu "O Exorcista", clássico que ele apenas ouviu falar, mas nunca havia assistido. Sempre lhe disseram que era o filme mais assustador de todos os tempos, o que despertou sua curiosidade quando viu, no final da tarde passada, que estaria em exibição.


O horário marcado era 02:25, Bruno precisou deixar o despertador ligado para não perder a hora. Assim, com a TV do quarto em volume baixo, para não atrapalhar o sono dos pais e receber um bronca, ele assistiu a obra-prima de William Friedkin sem medo, do auge dos seus nove anos. Bom, não exatamente sem medo. Ao término do filme, já passada as cinco da manhã, as cenas da possessão da garota Reagan não saiam de sua mente. Era fechar os olhos que as imagens do vômito verde, o giro da cabeça, a masturbação com o crucifixo (que ele sequer entendeu bem) ou a levitação teimavam em surgir. Claro que ninguém saberia disto, já que seria humilhante para um homem admitir que ficou com medo de um filmezinho bobo, assim pensava.


O sono só chegou muito tempo depois do Sol raiar e iluminar parcialmente o quarto do garoto. Ainda que tivesse medo de que, a qualquer instante, sua cama fosse começar a balançar, sentiu-se mais seguro sendo dia e os pais estarem acordados. Quando escutou o pai ligar o chuveiro caiu no sono quase instantâneamente. Não teve pesadelos. Na verdade, nem teve certeza se dormiu, tinha a impressão de num instante fechar os olhos e no outro ser despertado pela mãe.


Preguiçosamente, vestiu a primeira camiseta que sua mão tocou e dirigiu-se para o banheiro, semi-acordado. Lavou o rosto, escovou os dentes, urinou abundantemente (não o fazia há mais de dez horas) e tomou um banho rápido, quase frio, mais para despertar do que para higienizar-se. Após fechar o chuveiro e apertar a toalha contra os olhos ao secar-se, já se sentia mais disposto. 


O cheiro da comida da mãe era delicioso. O aroma do feijão bem temperado atiçou o estômago de Bruno logo que ele saiu do quarto, já vestido para o colégio. Tinha fome. E agradecia a Deus pelo cardápio não trazer sopa de ervilhas. 


*****


Bruno estava no segundo ano. Estudava na Escola Municipal de Ensino Fundamental Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, em Novo Hamburgo, no bairro Redentora. Era um dia bonito de outubro, em plena primavera, com o Sol brilhando e uma leve brisa impedindo que o calor insuportável se instalasse.


Exatamente para aproveitar a tarde, a professora resolvera antecipar a Educação Física, que estava programada apenas para o próximo dia.


- Não é dia de ficarmos trancados na sala! [Dizia animadamente Fernanda, a mestra, que na verdade era uma estagiária e não tinha idade nem para ser mãe dos seus alunos].


Bruno gostava de futebol, mas, após dormir pouco e ter comido rapidamente no almoço, não se sentia muito animado para jogar. Mesmo assim, atendendo a pedidos dos seus colegas e, principalmente, porque Marianne, a menina que ele gostava, estava olhando, decidiu jogar um pouco. Bem pouco, na verdade, já que, cinco minutos após entrar na quadra, uma bola afortunadamente acertou seu nariz, após um colega do time adversário chutá-la forte e sem direção. Bruno caiu de costas, enquanto enxergava raios de todas as cores e formas graças a bolada. Fernanda chegou a correr para acudí-lo, mas as risadas dos colegas, juntamente com a vergonha de ter feito papel de bobo à frente da mulher da sua vida trataram de reanimá-lo imediatamente.


*****


Nuvens começavam a se formar, escondendo o Sol. A brisa já começava a tomar forma de vento e, por precaução, Fernanda decidiu que era melhor retornarem à classe.


Mais cansado ainda, após tentar exibir-se para Marianne e ser nocauteado, passando o resto da aula emburrado, Bruno sentou-se pesadamente em seu lugar, no fundo, próximo à janela, e se pôs a conversar com Jean, seu colega e melhor amigo.


- E aí? Viu o Exorcista ontem? [perguntava Bruno]


- Pior que não. Meus pais não me deixaram ver e…


- Ah! Não mente, cagão!


- Sério, cara! Eu ia olhar, sim!


- Aham, sei… Tava é com medinho, seu viado! Eu olhei todo e…


- Meninos… [interrompia a professora] Abram seus livros, agora é hora do conto.


- Viadinho… [disse Bruno para Jean, quase inaudível, com um sorriso de canto de boca]


A hora do conto, para Bruno, era tédio puro. Nunca gostou muito de ler, nem mesmo quadrinhos. Se ler já era chato, dizia, imagina alguém ler para você! E a história de hoje era João e Maria, um conto que ele já ouvira umas quinhentas vezes e que achava muito infantil. Mesmo assim, resolveu acompanhar a professora Fernanda no seu Livro dos Contos, um calhamaço com cinquenta histórias que os alunos receberam no início do ano letivo.


A chuva começava a cair, de imediato Bruno bocejou, mas seguiu acompanhando a fábula. Quando João e Maria encontraram a casa de doces na floresta, Bruno embaralhou a vista e quase não distinguiu as letras do texto. Quando João ofereceu um graveto para a Bruxa tocar, no lugar de seu dedinho, Bruno cochilou sobre o livro.


Acordou de sobressalto, com o barulho do granizo batendo no vidro da janela. De olhos arregalados, percebeu que estava sozinho na sala. Percebeu que estava com muito frio. Percebeu que já anoitecera…


*****


Quanto saiu do banho e vestiu-se para ir à escola, usava apenas uma calça jeans e uma camiseta gola polo, e saíra reclamando do calor.


- Leva uma blusa, pois esfria de tarde! [disse-lhe sua mãe].


Bruno não lhe deu ouvidos, como era de praxe. Desta vez, porém, arrependia-se. O termômetro da sala, que a tarde registrava 25°, agora marcava 5°. Um frio atípico para a estação.


Com os braços cruzados sobre o abdômem, caminhou até a porta, rezando para que não estivesse trancada. Um arrepio correu pelo pescoço quando tocou a maçaneta, sentindo todos os pêlos do corpo se eriçarem, mas, felizmente, estava destrancada.


O frio fora da sala era estranhamente menos intenso. Porém, o corredor estava às escuras, bem como toda a escola. Pelo que o garoto lembrava, o interruptor se localizava em uma pilastra próxima à escada, há uns cinquenta passos de onde ele estava, segundo suas contas. Não queria passar a noite alí, mas, principalmente, não queria permanecer no escuro. 


Aguardou seus olhos acostumarem com a penumbra e, guiando-se pela parede, saiu para o corredor. Mentalmente ia contando os passos, quase não respirando de tensão, ouvindo o barulho do granizo no telhado. 


Vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove…. O frio retornava com força. Agora ele podia ver nuvens de ar a cada respirada. Quase pensou em voltar correndo para a sala de aula, mas agora estava mais perto do interruptor, então decidiu acelerar o passo, quase correr.


Quarenta, quarenta e um, quaren… seus pés pisaram em algo molhado e viscoso. Mal teve tempo de registrar isto, pois vislumbrou a pilastra quase ao alcance das mãos. Deixando o apoio da parede, Bruno correu onde se lembrava que ficava a chave de energia. Seus dedos tocaram imediatamente as teclas e fez-se a  luz! 


Com o corredor perfeitamente iluminado, Bruno teve um hiato de cinco segundos de uma tranquilidade razoável, até registrar uma poça de sangue a menos de dez metros de onde ele estava. Seus olhos se voltaram primeiro para as pegadas rubras que seus tênis deixaram pelo caminho, e em seguida para o teto, sobre a poça, de onde pendia o corpo do senhor Mauro, o zelador da escola. Estava nu, pendurado pelos pés através de uma corda fixada em um suporte de uma das luminárias. Uma perfuração no centro do peito e o rosto completamente vermelho, com um semblante de sofrimento, davam a ideia de que sangrara até morrer.


As pernas de Bruno fraquejaram, seu estômago se contorceu, querendo expulsar o almoço. Inclinou-se sob o parapeito e, segurando-se nas barras, vomitou. O som ecoava na escola vazia. Pálido, ainda tremendo, contornou a poça e correu para o andar de baixo.


*****


O térreo estava iluminado somente pelas luzes do segundo andar. O hall de entrada da escola tinha uma porta dupla de um vidro transparente, dando direto para o pátio principal. Bruno correu direto para lá, e forçou uma das folhas. Sem sucesso. A porta, além de trancada a chave, possuia uma corrente unindo os puxadores, do lado de fora, com aros grossos, e um cadeado.


Desesperado, jogou-se contra o vidro, que devolveu o mesmo impacto, atirando-lhe ao chão. Um trovão ribombou no pátio, sobre uma das traves de madeira da quadra de futebol. O fogo imediatamente começou a consumir as goleiras. Com dificuldade, Bruno levantou-se, apoiando o corpo nos pesados vasos de planta que ali haviam. Devido ao breu da noite, não havia percebido algo nas traves que, agora, devido ao fogo, podia ver melhor: Professora Fernanda, sem roupas, pendurada pelo pescoço em uma corda no meio do travessão e com as mãos amarradas às costas tremulava ao ritmo do vento. 


Bruno ficou em estado de choque. Estático, permaneceu olhando fixamente para o pátio, com os olhos arregalados e a boca aberta. Só saiu do transe quando o fogo consumiu a corda e Fernanda, com os cabelos em chamas, caiu no chão de concreto. Ele precisava sair dalí, tinha de achar uma saída, não queria ficar preso naquela escola. 


Sem ação, lembrou-se dos banheiros, que ficavam bem próximos da entrada. Cada compartimento possuia uma janelinha. Ele teria de tentar. Disparou na direção dos sanitários mesmo quase sem visibilidade, com a adrenalina em alta. Nem percebia que chorava até as lágrimas salgadas chegarem à sua boca.


*****


Meio trôpego, Bruno deu com o nariz na porta do banheiro masculino. Testara a maçaneta insistentemente, quase a arrancando da fechadura, mas nada acontecia. Frustrado, escostou a testa na madeira e começou a chorar copiosamente, deixando-se deslizar até o chão enquanto soluçava.


Foi em meio às lágrimas que, olhando para a escada que conduzia ao segundo andar, vagamente iluminada, um movimento chamou-lhe a atenção: envolto em algo que parecia uma toga com capuz, um Ser praticamente deslizava rumo ao andar de baixo através dos degraus. Lentamente, o Ser virou a cabeça na direção de Bruno. Um par de olhos estrábicos, de um violeta vivo, fitaram o garoto. Da fenda negra abaixo do nariz, bem evidente devido a pele pálida, um largo sorriso com dentes disformes e amarelados surgiu. A coisa apontou um dedo para Bruno:


- Você… [a voz era quase um ronronado de um gato] Quero você…


A bexiga do menino soltou-se nesta hora. Nem percebeu o mijo quente escorrer por entre as pernas. A sua mente de garoto não havia lhe sugerido tentar o banheiro feminino. Era algo errado, proibido. Mas Bruno não mais importava-se com bons modos e, antes da criatura entrar na curva da escadaria, testou a porta do sanitário das meninas. Quase gargalhou ao achá-la destrancada. 


Encostou-a sabendo ser inútil, já que não tinha a chave, mas não se preocupava com isto. Precisava ser rápido, podia sentir o farfalhar da toga nos degraus da escada há menos de trinta metros. Aliviou-se ao achar a tomada e ter o cômodo inteiramente iluminado.


O banheiro feminino tinha três compartimentos, e, instintivamente, dirigiu-se ao central. Ao abrir a porta sentiu uma nova onda de horror: Jean estava sentado, com as calças abaixadas. O colega de Bruno fôra decapitado, e só foi reconhecido pelo amigo graças a camiseta da banda Oasis, que usava frequentemente, agora ensopada de sangue. Tornando a cena ainda mais bizarra, Jean segurava em suas mãos, na frente da virilha, a cabeça de Marianne, que mantinha a boca escancarada em um eterno O e os olhos abertos sem vida e sem íris.


Pela primeira vez na noite Bruno gritou, e cambaleou de costas até encostar na parede, afastando-se daquele cenário aterrador. O ar parecia impregnado com o cheiro pesado de sangue. Um gosto de bile subiu à garganta do rapaz quando escutou passos vindo do exterior do banheiro.


Impelido pelo medo, entrou no compartimento central, e puxou o amigo morto para o lado, a fim de subir no vaso. Ao deslocar Jean, o defunto derrubou a cabeça de Marianne. O barulho foi semelhante ao que se ouve ao atirar um peixe sobre uma tábua de madeira. A janela abriu sem dificuldade no exato instante em que a porta rangia ao ser aberta lentamente. Bruno subiu na caixa descarga, escorregadia devido ao sangue, e içou-se pela pequena abertura acima. Em três segundos estava do lado de fora, estatelado na relva, de costas para cima. Virou-se a tempo de ver o rosto pálido do Ser na janelinha, ainda a lhe sorrir.


A chuva era fria, as roupas estavam empapadas, Bruno tremia e batia queixo. Levantou-se e caminhou em direção ao portão da escola. Um cheiro de carne de porco assada chegou ao seu nariz ao passar próximo do corpo fumegante da professora. Ela havia caído de lado, e não era mais do que um esqueleto envolto em pele negra ressecada, mas com os olhos estranhamente vivos a fitar o garoto.


O granizo castigava-lhe o corpo franzino. Estava exausto, machucado pela queda, chocado com tudo que havia passado, mas resistia à entrega bravamente. Precisava sair daquele inferno e buscar ajuda. Estava a menos de dez metros do portão quando uma pedra de gelo do tamanho de uma bola de pingue-pongue o acertou no supercílio, o derrubando de joelhos.


Com a visão turva, levou uma das mãos ao machucado e se assustou quando as pontas dos dedos se mancharam de sangue. Do SEU sangue. Apoiando um braço no solo, levantou-se novamente e deu dois passos até que uma nova pedra de gelo, desta vez quase do tamanho do um punho fechado, atingiu-o na face, jogando-o no chão lamacento. Um gosto ferroso de sangue inundou sua boca enquanto a chuva de granizo ganhava força, judiando-o por inteiro.


Mesmo no frio sentia o corpo arder nos locais em que era atingido. Num ato de desespero levou as mãos ao rosto para se proteger. Parecia que todo o granizo do mundo havia o escolhido para alvo. Ao virar-se de barriga para baixo instintivamente, a fim de proteger os órgãos vitais, uma última pedra atingiu-o na nuca. Bruno perdeu os sentidos em meio a tempestade, enquanto uma poça de sangue aquoso formava-se ao redor de seu corpo.


*****


Um barulho contínuo trouxe-o de volta. Estava deitado em uma cama branca, num quarto branco, com uma pessoa de branco à sua frente. Tinha dificuldade para abrir os olhos, que estavam bem inchados, mas, ao vislumbrar a mãe sentada na poltrona a seu lado, quase fez o globo pular da cavidade. 


A mãe foi até ele e o abraçou levemente enquanto chorava silenciosamente, evitando forçá-lo muito.


- Eu… [Dizia Bruno, quase sussurrando] eu tô vivo? Mãe?


- Sim, filho! Sim! [Íris começava a chorar mais alto] Deus é bom!


- Mas… mas como me acharam?


A mãe olhou para o doutor, que lhe devolveu o olhar, meio embascado, piscando através dos óculos de lentes esmaecidas.


- A diretora ligou, filho. Você bateu com a cabeça na quadra jogando bola, lembra?


- Eu? Quando?


- Há dois dias, Bruno. [Respondeu o médico, por baixo da máscara cirúrgica] Desde então você apenas dormiu, até agora.


A cabeça de Bruno voltou a doer, sentiu o mundo girando. Sua mãe segurava seu pulso. 


- Tudo bem. [continuou o doutor] É uma reação natural de quem sofre algum trauma no crânio. É melhor deixá-lo descansar mais um pouco, dona Íris.


A mãe acomodou-o no travesseiro. Um sorriso brotou no rosto de Bruno. Agora percebia que estava nu, provavelmente devia ter urinado nas roupas e na cama e foi preciso trocá-lo, mas era uma humilhação que poderia suportar.


- O que foi, filho? Por que o riso?


- Nada não mãe, um negócio que sonhei, só isso.


- Deve ter sido um sonho e tanto. [Disse o médico] Você dormiu por quase dois dias inteiros. Dormindo você se recuperaria mais rápido.


Bruno viu o médico introduzir uma seringa no frasco de soro que estava conectado ao seu corpo. 


- O que é isto, doutor?! [perguntou o rapaz]


- Ah. É um negocinho para você dormir mais um pouco. Ainda não está bem, bem. Mais um dia de recuperação e já vai poder voltar até a namorar. [o doutor piscou para Íris, e um sorriso de alívio surgiu no rosto da mãe, em meio às lágrimas incessantes]


Íris abraçou o filho uma vez mais. Sua testa já não estava febril, o que aliviou ainda mais a mulher. 


- Eu vou ao banheiro lavar os olhos filho. Já, já eu volto.


Após um beijo no rosto, a mãe de Bruno deixou-o só com o médico. O menino já sentia a sonolência lhe dominar enquanto seus olhos percorriam o quarto de hospital. Um instante mais tarde, seu olhar parou em seus tênis, colocados sobre a roupa dobrada que usava quando foi a escola na última vez, em cima de uma cadeira. Na sola, Bruno notou manchas vermelhas, como se ele houvesse pisoteado em beterrabas cozidas.


Aflito, mas sem forças, olhou para o doutor, parado aos pés da sua cama, com uma segunda ampola nas mâos. O médico baixou a máscara e sorriu, exibindo seus dentes amarelados e podres, e aproximou-se de Bruno. Através dos óculos, o garoto viu com incredulidade e terror os olhos vesgos cor de violeta. Então falou, abaixando o rosto próximo o bastante para que seu paciente sentisse o hálito putrefato:


- Bons sonhos, menino. Descanse em paz.


Depois disto, o mundo de Bruno foi tomado pelas trevas.

Escrito por: Wagner De La Cruz

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domingo, 30 de outubro de 2016

Harmonia Corporal

Certo dia acordei com o suor descendo pelo meu rosto e ensopando minha camisa. Me sentei na cama dura como pedra pensando em como minha cama havia endurecido em algumas horas. Esperei meus olhos se acostumarem ao breu do quarto e logo o que eu desconfiava se confirmou.

Não era meu quarto.

Me levantei e logo que meus pés descalços tocaram o chão senti o áspero piso de cimento, tomado por poeira e sujeira. Levantei os pés rapidamente e procurei por um chinelo, brigando com a escuridão.

Me levantei e procurei por um interruptor, mas em vão. Apesar de já estar enxergando alguns contornos, ainda estava muito escuro e aquele quarto era completamente novo pra mim, eu nunca havia estado nele.

Tentei abrir a porta e descobri que estava trancada, logo comecei a ficar realmente assustado, com o coração na boca. Pensei em gritar pela minha mãe ou pelo meu pai, mas antes mesmo de gritar por ajuda eu já sabia que eles não iriam me escutar, não ali.

Sentei no chão, já não me importando com a sujeira e comecei a chorar, chorar como um bebê, tinha o direito disso, afinal, ainda não havia completado nem 14 anos.

Mas, na verdade, o pânico de verdade ainda não havia batido, mas não tardou. Bateu quando eu estava ainda sentado chorando como uma garotinha, bateu quando eu passei a mão pelo rosto para secar o olho e senti a pele um pouco mais áspera, quando passei a mão pela cabeça e não senti meus cabelos ondulados, senti apenas um cabelo rente a cabeça e quase tão áspero quanto o chão. Abafei um grito. Eu era outra pessoa, ou melhor, estava no corpo de outra pessoa.

Isso já havia acontecido comigo algumas vezes, mas eram apenas flashes rápidos e incompreensíveis, nunca era nada como o que eu estava vivendo. Algumas pessoas acreditam que isso é um dom espírita, mas eu não acredito muito nessas coisas.

Me levantei e respirei fundo, tentando não entrar em pânico. Encontrei alguma coisa pontuda no chão, um pedaço de arame, imaginei, e sabe-se lá como consegui abrir a porta.

A claridade do outro cômodo me cegou por um momento, mas logo percebi que alguma coisa estava errada, eu não estava no meu tempo, no meu ano, talvez nem no meu século. Eu estava em uma casa antiga, parecia largada haviam anos, estava tudo empoeirado e o chão já havia ganhado uma segunda camada, esta de poeira.

Fui até um espelho enorme que estendia-se até o teto, sobrepondo-se a uma mesa com algumas fotografias de uma jovem branca com um filho de colo, depois essa mesma jovem pra lá dos quarenta anos com um rapaz negro e alto e no final da mesa apenas ela sentada em uma cadeira alta e com uma expressão extremamente triste no rosto. Mas o que chamou a minha atenção foi o meu reflexo escuro no espelho após eu jogar a poeira pro lado com a mão.

Eu era um garoto negro, com cicatrizes em toda a extensão do rosto, olhos inflamados (que só começaram a coçar depois que fiquei sabendo que estavam inflamados, incrível como é nosso cérebro), e uma orelha faltava um respeitável pedaço.

Mas não me demorei muito naquele reflexo, meus olhos foram parar na mesa, atrás das fotografias empoeiradas, em um diário de couro gasto e com um pedaço de papel pardo saindo pra fora. Abri o livro e percebi que o papel pardo era uma notícia recortada de um jornal antigo. Li rapidamente o título e o primeiro parágrafo da notícia:

"Negro é preso após assassinato de recém nascido"

"Brad Rockerty, 26, foi preso após confessar assassinato de Dollis Crossaint, 2 meses de idade, e tentativa de assassinato de Bella Crossaint, 22 an..." O restante do jornal estava rasgado.

Voltei minha atenção para o diário, onde frases desconexas foram escritas em letras rabiscadas:

"Encontrrrei B"

"D bem dorme muito"

"b está apanhando como um porco q é"

"b n vai cresser d nv n vai b criança"

"pretos morrem assaçinos"

"d está uma grassinha q amor"

Fechei o diário com repulsa, achando aquilo doentio.

Olhei ao redor da casa e percebi que havia uma porta que dava para a cozinha. Andei cautelosamente até lá e logo ao entrar senti o cheiro de podridão vindo de panelas há muito não utilizadas e nem lavadas, havia restos de comida pela mesa e pela pia. Me virei rapidamente para sair da cozinha, mas parei com um barulho que me causou arrepios, era um barulho rouco, próximo de choro e vinha de trás da porta do outro lado da cozinha. Abri a porta e ela rangeu em protesto, fui engolido pela escuridão e o cheiro de mofo.

Fui até a sala e peguei um lampião a gás que me lembrava de ter visto um tempo atrás. Voltei até a cozinha e percebi que o caminho que se estendia pela porta era uma escada longa e funda. Desci com cuidado e me dei parado de frente a uma porta de ferro, era dali que o som havia saído minutos atrás, havia alguém ali.

Se eu estivesse com a cabeça no lugar, teria percebido que a porta estava trancada por fora, mas não prestei atenção nisso, apenas abri a corrente e entrei. Passei direto pela porta e levantei o lampião e com o canto do olho vi uma cadeira de balanço com uma senhora. Me aproximei cautelosamente.
"Ola?! Senhora Crossaint?"

A senhora se balançou num esgar que pretendia ser um riso, que na verdade se transformou numa tosse carregada.

"Olha minha quer...rrida. Parece que o senhor Br...Brad veio nos visitar".

Ela olhou pra cima e deu um sorriso, expondo dentes podres e escassos. O riso se transformou numa gargalhada e logo depois em um acesso de tosse.

"Como ousa sair do seu quar...quarto seu preto imundo?" ela gritou "olha o que você fez com a pequena Do...Dollis!"

Foi tudo muito rápido, me lembro de ter caído no chão e batido a cabeça, mas antes de desmaiar me lembro daquela visão terrível. A velha senhora Crossaint levantou o que um dia foi sua filha, agora já em estado de decomposição completo e restando praticamente apenas os ossos. Depois disso apaguei. 

 Acordei um tempo depois com uma dor insuportável concentrada na parte de trás da cabeça. Mas quando acordei eu não era aquele pobre menino que havia sido pego por uma mulher que há muito já havia perdido a sanidade e o feito de Brad Brackart apenas por ser negro, eu não estava naquela casa assustadora, eu era apenas Daniel Alphonse, um garoto de 13 anos. O que sempre me passa na cabeça é se aquilo foi real ou apenas um sonho.

Apesar dos anos passados, eu nunca procurei saber se em algum lugar do mundo alguma Bella Crossaint existiu. Depois daquele dia, não tive mais sonhos em que eu me encontrava no corpo de outra pessoa e agradeço por isso.

Talvez eu jamais deva saber se aquilo realmente aconteceu, a linha entre a sanidade e a loucura é bem tênue e eu não quero coloca-la à prova.

Créditos a marvolors (Matheus Lavinas) por esta incrivel historia.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Creepypasta dos Fãs: Artemiel

Olá, meu nome é Artemiel, Arte... MIEL! O que venho contar-lhes não é real... Digo, eu já não sei o que é, e não é REAL! Não sei quem sou e nem se meu verdadeiro nome é, de fato, Artemiel, mas sei que é do que me lembro. Lembro-me de ter acordado no que acreditava ser o meu quarto, cheio de pôsteres de arcanjos e símbolos. Havia lá, também, um grande armário branco, tudo era branco. Estava confuso, não lembrava de nada, apenas do nome que ecoava em minha mente, incessante: Artemiel, Artemiel, ARTEMIEL!
- O que diabos é Artemiel? Perguntei.
Olhei mais para o quarto, na parede, havia um calendário, era uma quarta-feira, dia 22 de março, do ano de 2006. Havia também um relógio em meu pulso, marcando as 7:00 da manhã. Passei, então, a reparar no quarto, no intuito de lembrar-me de algo, mas não consegui nada. Passei cerca de uma hora olhando os pôsteres, lendo algumas passagens dos livros, nada me era esclarecedor. Reparei mais um pouco, embaixo da cama, de trás da porta, no armário, não tinha nada. Decidi sair do quarto, eu estava numa casa de 2 andares, havia outro quarto do meu lado. Reparando do lado de fora, a casa aparentava estar vazia, além disso, setas, em cor vermelha, me indicavam um certo caminho a percorrer. Seguindo as setas, desci as  escadas, chegando ao que aparentava ser a sala. Nela, havia um sofá grande, duas poltronas, uma Tevê, uma estante e um grande espelho. Como já havia dito, eu não lembrava de nada, além de, é claro, o nome: Artemiel. Fui de frente ao grande espelho, vi meu rosto, pois não lembrava dele também. Tenho cabelos negros, curtos, cerca de 1,70 a 1,80 de altura, olhos castanhos, cor parda. Não me admirei e nem me espantei. Era como se eu descobrisse algo novo.
- O que há de ter acontecido comigo? -Penso.
No chão da sala, havia mais setas vermelhas, a cozinha ficava do lado da sala e o banheiro no meio, entre os 2 cômodos. Não havia setas lá, indaguei-me: Por quê? Para sanar minhas dúvidas, fui verificar os cômodos, não havia nada demais também. Na cozinha havia alguns eletrodomésticos, mesa, cadeiras, um abajur. No banheiro, uma banheira, um vaso sanitário, um espelho e uma pia. Nenhuma seta. Voltei para a sala, abri a porta da casa e sai na rua. Na porta da casa, havia mais setas vermelhas, num caminho feito de pequenas pedras, também havia uma garagem na casa. Não fui lá. Havia uma casa frente a minha, a casa onde acordei era branca, a que estava frente ela, era negra. Frente a essa casa negra, também havia setas vermelhas. Caminhei até o meio da rua, quando um garoto também sai da casa negra. Fiquei apreensivo, mas também relaxado, finalmente encontrei alguém, ele poderá me dizer quem sou. Ele se aproxima, quando digo-lhe:
- Olá! Poderia me ajudar? Isso pode parecer estranho, mas é... Bem, eu não lembro de nada, não sei quem sou!
Ele me olha, dos pés a cabeça, e diz:
- Estás brincando comigo? –Perguntou.
Respondo-lhe:
- De forma alguma, não lembro de nada! Única coisa que me lembro é de um nome: Artemiel!
- Só pode estar de brincadeira –Ele diz.
- Por que estaria? -Digo.
- Porque é igual comigo, não lembro de nada, a não ser desse maldito nome! -Diz ele.
- Como pode? –Pergunto-lhe.
- Não sei! –Diz-me ele.
Pergunto-lhe o que há na casa, ele me diz que não há nada: Disse-me que acordou as 7:00 da manhã e que não há nada de esclarecedor em seu quarto. Além disso, disse-me que há  setas vermelhas na saída do seu quarto, que vão até a sala da casa, há outro quarto do lado do seu e também não há nada na cozinha e no banheiro. Isso me assustou, assustou muito. Perguntei também se ele havia visto algo mais, ele me diz que nada, a não ser uma chave no bolso de sua calça.
- Bolso? –Pergunto.
- Sim! -Responde ele.
Achei estranho! Verifico meus bolsos... ENCONTRO UMA CHAVE!
- Você tentou, é... abrir algo com a chave? –Pergunto.
- Não! –Diz ele.
Há três fatos incomuns que não lhes contei: Minha vestimenta era completamente negra, enquanto toda a casa em que acordei, era de cor branca. O rapaz que encontrei, a minha frente, tem uma vestimenta completamente branca, como a cor da casa em que acordei. Lembra do quarto ao lado do que acordei? Eu tentei abri-lo, mas ele estava trancado. Lembra das setas? Elas não seguiam para fora da casa, e sim, para dentro dela, mais precisamente para dentro do quarto trancado.
Decidimos, então, entrar cada um em uma casa, eu na negra, ele na branca. Não perdi tempo, peguei a chave, subi as escadas, vi as setas, cheguei  frente ao quarto, pus a chave na tranca, abri a porta... O que vi foi aterrorizante, doentio, discrepante... Havia pedaços de membros de corpos, nas paredes, escritos com sangue, estava escrito o nome: ARTE! Alguns membros também foram alinhados para formar esse nome. Não consegui permanecer muito tempo ali, antes de sair da casa, verifiquei o quarto em que o rapaz diz ter acordado. Realmente não havia NADA, a única coisa que me surpreendeu foi a abundância de pôsteres de artes e quadros de artistas. No mesmo instante que sai da casa negra, o rapaz sai também da casa branca. Eu não sei explicar bem esse momento, é como se nós dois soubéssemos de algo, mas não temos coragem e nem confiança o suficiente para contar ao outro. Automaticamente, ambos começamos a ir para o último lugar ainda não visto: A garagem. Nos olhamos uma última vez, demos as costas, abrimos as garagens... Quando entrei, a porta da garagem logo fechou-se, sozinha, isso não me impactou em nada, pois eu estava perplexo com o que havia a minha frente: Um quadro enorme, uma mesa com velas e uma faca nela. ARTEMIEL! Finalmente entendi... No quadro, havia um anjo e um demônio. O anjo representava a imponência e força de Deus, esse se encontrava em pé, no qual a sua mão direita empunhava uma espada longa, que perfurava o coração do demônio. Deitado, encontrava-se o demônio, representando a avareza e mentira de Satanás, na mão direita empunhava uma espada negra, tal qual se encontrava no coração do anjo. Ambos, anjo e demônio, estavam chorando. Abaixo do quadro, existia um texto: Artemiel, melhor: Arte e Miel! Quando encontrados em solo sagrado, forjando espadas e cantando lírios ao senhor, eram abundantes em sabedoria e alegria, como pôde, Miel, filho de Deus, teres caído para as depravações da serpente? Eis que quando ao lado do Senhor, não havia dúvidas em seu coração? Quando ao lado de seu irmão, Arte, eras feliz? Pois agora, que abandonastes teu pai, sofrerá pelas mãos de seu carrasco, seu próprio irmão... Arte!
A faca que vi inicialmente, na mesa, na verdade, era uma espada. A espada negra do demônio Miel. Após ver o quadro e ler o texto, eu fui capaz de lembrar do que aconteceu...
Meu nome é Lennon, eu tenho 18 anos, o rapaz de branco é meu vizinho e melhor amigo. Na terça feira, quando voltávamos da escola, nós paramos em uma mesquita recém aberta, na volta do trajeto para nossas casas. Lá, nós falamos com o atendente: Um homem alto, careca, barbudo e de vestimentas negras. A principio, o achei estranho, mas nada de muito alarmante. Digo, essa era a imagem que eu tinha desse tipo de pessoa. Nós não compraríamos nada, só iriamos olhar mesmo. Quero dizer, eu não o tipo de pessoa religiosa, etc. Na verdade, eu era só um otário, zombava de tudo e de qualquer coisa. Isaac, meu amigo, o garoto de branco, ele era um tanto mais ‘’conservador’’. O atendente apareceu interessado demais em nós, mesmo eu tendo dito que só queríamos dar uma olhada.
- Vão querer comprar alguma coisa? Disse o atendente.
- Não! Disse eu.
- Viemos apenas dar uma olhada! –Disse Isaac.
Mas o sujeito insistiu...
- Por favor, como cortesia, por serem os primeiros clientes a virem aqui, permita-me dar-lhes um presente em nome da loja. –Disse o atendente.
- Não precisa! –Dissemos.
- Eu insisto! –Disse ele.
Maldito! Se eu soubesse... Se eu, ao menos, tivesse alguma ideia... Ele nos deu esse maldito quadro... Mas deu a mim apenas a parte do demônio, certamente deu ao Isaac a parte do anjo. Deve saber que sou um vagabundo incrédulo e que o Isaac é um certinho religioso. MALDITO! Eu não lembro de mais nada após receber a metade do quadro, minhas memórias estão confusas. Lembro de ter saído da mesquita, voltado pra casa e de ter dado adeus para o Isaac nas portas de nossas casas... Após isso, eu fui POSSUÍDO! Não só eu, o Isaac também foi!
Lembra da casa branca? Aquela não é minha casa, é do Isaac! EU ASSASINEI A FAMILIA DO ISAAC E PINTEI A CASA DELE DE BRANCO! Digo, eu não, mas o demônio que me possuiu, Miel, fez isso. Ele matou a família do Isaac porque isso representa o que é importante para ele, Isaac e Arte, seu irmão! A benevolência religiosa da família de Isaac seria a representação de Deus em sua vida, o que Miel mais odeia, por ter sido banido do céu e ter sido executado pelo próprio irmão, a mando de Deus. Mas mesmo assim, por ter pintado a casa de branco, isso também representa que ainda ama seu irmão, Arte, embora tenham tomado direções diferentes. O que aconteceu com o Isaac foi o mesmo que aconteceu comigo, Arte assassinou minha família incrédula e mundana, como também pintou a casa de negro em homenagem ao irmão, Miel. As setas representam os caminhos dos carrascos, os sangues dos irmãos, suas escolhas... As vestimentas representam as personalidades... AQUELE MALDITO DA MESQUITA, ELE ERA O DEMÔNIO! Ele sabia, nos conhecia, e nos amaldiçoou com essa maldita rixa de anjos e demônios. Ele está do meu lado agora... Está dizendo: Pegue a espada; ainda não acabou!
Eu pego a espada, saiu da garagem e encontro Isaac do lado de fora, com uma espada na mão... Nesse momento, eu entendo o choro de Miel...

Creepypasta enviada por: UraharaKi.
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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Creepypasta dos Fãs: Por quê você me matou?

Olá, meu nome é Amanda, tenho 14 anos, sou vocalista de uma banda pouco conhecida. Fazem seis anos que me mudei e desde esse dia, não fico mais em paz.
   Toda noite, em meus sonhos, vejo uma mulher a uns 4 metros de distância, não consigo ver seu rosto, só sei que seus cabelos são loiros e usa um casaco branco com manchas de sangue. Ela fala "Por quê você me matou?" E simplesmente eu acordo quando ela para de falar. Hoje quando acordei, tinha uma nota na parede do meu quarto , estava escrito "Por quê você me matou?" Estava em todos lugares: no carro, na escola,no banheiro, no ginásio, até na garagem dos ensaios.
    O medo e a loucura tomavam conta de mim. Como isso é possível? Não era só um sonho? Passei vários dias sem dormir e sem ir à escola, estava em pânico, com medo de dormir e nunca mais acordar, mas aquela mulher não saía da mente e sempre falava a mesma coisa.
    Já não aguentava mais, acabei dormindo.
    Dessa vez a mulher estava mais perto, sua pele era branca como papel,não tinha olhos e sua boca era cortada de orelha à orelha e novamente ela disse " Por quê você me matou?" Não consegui responder, estava em choque, ela veio até mim e arrancou meus olhos, arranhou minha pele e estampou um sorriso igual ao dela no meu rosto, até que finalmente morri.
    Eu estarei em seus sonhos , te perseguirei como me perseguiram te farei sofrer como sofri até você morrer.

     "Por quê você me matou?"

Escrito por Amanda.
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